segunda-feira, 16 de abril de 2012

Fugir De Casa: Vale a Pena?! (Garotas deixaram suas famílias contam como foi a experiência)


menina no período menstrual Depois de uma briga feia com os pais ou diante de um grande problema, dá vontade de jogar tudo para o alto e começar uma vida nova, sem cobranças. Mas será que é simples assim? Na hora da raiva, tudo parece fácil: é só juntar dinheiro, arrumar a mala e sair por aí. Mas, e o dia-a-dia? Já pensou como é se manter sozinha? Cuidar de tudo? Sem falar na saudade e na carência que podem surgir. Não é fácil! 
Algumas meninas que deixaram os pais, os amigos e o conforto de casa contam como foi encarar uma fase cheia de desafios. 

Sem volta 
A paulistana Ana Paula Teixeira, 24, tinha 15 quando enfrentou sérios problemas com o padrasto. Ela assume que sempre encarou qualquer crítica como uma afronta pessoal. “Um dia, tive um desentendimento muito feio com ele. Chegamos a sair no tapa. Naquele dia, decidi fugir”, conta. 
Ana planejou bem para onde ir. Ela sabia que a mãe era dona de um apartamento. Sem dinheiro e sem ter o endereço certo, conseguiu encontar o prédio e convenceu a síndica a deixá-la ficar. 

O próximo passo foi procurar um emprego e se manter. “Tirei a carteira de trabalho e fui para o centro de São Paulo. As pessoas gostavam de mim, mas diziam que eu era muito nova. Achei que a fuga resolveria meus problemas. Então, descobri outros bem maiores. Fiquei quase três meses sem trabalhar e, para me sustentar, entreguei panfletos em semáforos”, 
relembra. 

Então ela conseguiu um emprego de balconista em uma padaria. Feliz com a situação, pensou que tudo iria se ajeitar. 
“A vida de realizações e de liberdade que eu tinha sonhado não existia. Ganhei, na verdade, muitas responsabilidades e deveres. Nem podia sair com meus amigos para não gastar dinheiro, e, no final do mês, tinha contas de luz e água para pagar, comida para comprar e sempre apareciam mais despesas”, diz. 

Sem nenhum contato com a família, Ana arcou com as consequências de sua fuga, trabalhou muito e não parou de estudar. Formou-se em Comunicação Social (a mãe não foi à sua formatura) e, atualmente, vive na Irlanda, onde faz intercâmbio. 

Questionada se tudo valeu a pena, reflete: “Perdi a melhor fase da adolescência. Quando fiz isso, achei que era uma heroína e que não precisaria de ninguém. Mas, com o tempo, percebi que sempre necessitamos da companhia da família. Hoje, existe uma barreira muito grande entre mim e minha mãe. 
"Faz 12 anos que saí de casa, e acho que a situação poderia ter se resolvido com uma boa conversa”. 

Família distante A indiferença da família de Aline, 17, foi o motivo da fuga. Para a garota, o esforço da mãe em preservar o segundo casamento fez que ela se esquecesse da filha. “Ela nunca esteve ao meu lado quando precisei. Nos momentos tristes, não tinha com quem chorar, e, nos alegres, não tinha com quem rir”, conta. 

Com o passar do tempo, Aline se aproximou mais dos amigos. Quando a mãe começou a implicar com suas amizades, o problema ficou ainda maior. Com uma família ausente e longe das pessoas que a entendiam, preferiu fugir de casa, em fevereiro de 2007, com uma de suas amigas: “Como nos entendíamos muito bem, preferimos ir embora. Fizemos nossas malas, juntamos R$ 300 e fomos para Goiânia”. 

Assim que chegaram à cidade, conseguiram um quarto em uma pensão do centro. O segundo passo foi procurar emprego. “Entramos em todos os comércios do centro para pedir trabalho. Mas nos achavam muito novinhas, sem experiência e referências”, conta Aline. 

O dinheiro, que já era pouco, passou a ser a grande preocupação. “Um dia, resolvemos procurar trabalho do outro lado da cidade e nos perdemos. A noite chegou e ficamos com medo de pedir ajuda a qualquer um. Estávamos com R$ 50 no bolso, mas preferimos guardá-los. As ruas ficaram desertas e encontramos abrigo em uma barraca de lanches desativada. Passamos a noite lá e foi um horror”, relembra. 

Dias depois as duas conseguiram um “bico” como vendedoras de cachorro-quente. “Ficamos o dia inteiro na rua para vender os lanches e percebemos que havia um homem muito estranho por perto. Ele olhava para nós de um jeito diferente. Ficamos com medo e não voltamos no dia seguinte”, relata Aline. 

Sem dinheiro, as duas decidiram ligar para uma amiga, para saber como as famílias haviam reagido à fuga. “Soubemos que até a polícia estava atrás de nós”, conta. 
No dia seguinte, as duas conversaram e voltaram para casa. O reencontro foi dramático, é claro. “Bateu uma emoção, mas eu não sabia se era de alegria ou de medo. Minha mãe fez mil perguntas e disse que quase ficou louca. Conversamos muito e me convenci de que fugir não era a solução para os problemas”, conta Aline. 

Para ela, a aventura foi uma lição de vida. “Não recomendo isso para ninguém, porque não leva a nada. Meus pais perderam a confiança em mim e, agora, entendo mais o lado deles”, finaliza. 

Em outro país Quando os pais de Andreza Carla, 15, do Recife, deram a ela uma viagem à Disney, nos Estados Unidos, não imaginaram que a garota pudesse aproveitar a ocasião para fugir. 

No início da adolescência, Andreza entrou em conflito com o pai, um pastor evangélico. Ele queria que ela seguisse à risca a religião da família. Como a garota era contra, as brigas sempre tiveram teor religioso. Para complicar, Andreza se apaixonou por Paulo, filho de um líder de um centro espírita. 
O pai dela proibiu o namoro e chegou a matriculá-la em período integral num colégio, para afastá-la do menino. “Sem querer, meu pai nos aproximou, porque o Paulo também estudava o dia inteiro”, conta Andreza.

Mas o pior ainda estava por vir: o pai de Ana planejava uma festa de debutante, enquanto ela queria ir para a Disney, em segredo, com o namorado. “Então, ganhei a viagem na condição de que a festa acontecesse”, lembra. 
E assim foi. Mas os planos começaram a dar errado.
“Meu namorado não pôde ir por causa das provas no colégio. Fui sozinha e achei a viagem inútil. Não aproveitei nada”, conta. A hipótese de voltar para casa e enfrentar as imposições do pai fez que ela tomasse uma decisão: ficar nos Estados Unidos. 

Nem o fato de reecontrar o namorado a convenceu a voltar. “Em Orlando, uma família me acolheu. Eles eram conhecidos do meu pai, mas não contaram para ninguém que eu estava lá. Minha mãe só soube que eu não voltaria quando a excursão chegou sem mim no Brasil”, recorda. 

Sozinha em um país estranho, Andreza teve que se virar para se sustentar. Aprendeu uma outra língua, lavou pratos em restaurantes, economizou dinheiro... Após dois meses, os pais descobriram seu paradeiro, mas ela fugiu de novo. 
Desta vez, para um albergue de mendigos, no Estado de Wisconsin. Aí, sim, eles ficaram sem notícias por uns dois meses”, relata. Andreza ficou no abrigo por um mês, até que conseguiu alugar um apartamento simples. “Ao todo, passei oito meses ‘foragida’ e vivi muita coisa. Tive que aprender tudo rápido”, diz a garota, que depois de um ano retornou ao Brasil, mas não voltou a viver com a família. 

Após três meses no País, viajou para Portugal. A intenção era fazer faculdade de arqueologia, mas acabou como funcionária de uma padaria para se sustentar. “Voltei para o Brasil quando soube que tinha passado no vestibular da Universidade Federal de Pernambuco, em História. Sempre quis provar para o meu pai que eu era capaz de cuidar de mim. Comecei o curso e, ao mesmo tempo, me matriculei em uma universidade particular para estudar química. Fiz de tudo para bancar meus estudos e minha nova vida: vendi bijouterias, perfumes, lanches, coxinhas e aprendi a costurar para fazer roupa para os outros. Me virei até terminar as duas faculdades e começar a lecionar”, conta. 

Hoje, com 24 anos, Andreza divide um apartamento com a irmã, que também saiu de casa. “Aprendi muito com a minha história. Mais do que qualquer menina que pula a janela do quarto”, desabafa

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